Deitada no escuro há duas horas, de olhos abertos e a contar pulsações. Tinha medo, não percebia qual a razão mas estava com medo. Sabia que aquele sítio a fazia ter algumas recordações de um amor que não esqueceu. Não associava esse amor ao medo, porque estava em casa, em segurança. Longe de tudo e de todos e perto daquilo que realmente gosta, a Natureza.
A contagem não parava, o receio de morrer naquela noite era grande. A morte sempre foi algo que a atormentou nos maus momentos e até mesmo nos bons. Já tinha deixado partir, em momentos bons da vida, algumas pessoas que amava e sabia que não as voltaria a ver. Para ela não era fácil perder alguém, fácil era ganhar. Fazia amigos com facilidade e encontrava amor num abrir e fechar de olhos, apaixonava-se. Era uma eterna apaixonada, raramente correspondida para além da amizade. Uma perita desistente no que toca ao amor. Persistir não fazia parte do dicionário de relações, daí a facilidade em arranjar amigos e não algo mais.
Por momentos parou a contagem e pensou na paixão que tinha nascido naquele local. Ela sabia que não tinha sido bem ali mas talvez aquele fosse o sítio em que ela mais se iria lembrar desses momentos. Pensou, pensou, pensou e perdeu-se na cronometragem de pulsações. Perdeu-se num sonho que queria tornar real há uns tempos atrás.
Fechou finalmente os olhos e imaginou o romance perfeito. O romance típico de um filme ou livro, aquele que acaba sempre bem e começa ainda melhor. As trocas de beijos, os gestos românticos, as palavras bonitas e o verdadeiro amor não faltaram.
As poucas horas em que manteve os olhos fechados foram perfeitas. Quando acordou, os raios de sol encadearam-na e despertaram-na para o dia que a esperava. Enfrentou as olheiras ao espelho, atou o cabelo, comeu qualquer coisa e saiu de casa. Levou uma máquina fotográfica e um caderno e foi...para os montes. Fotografou animais, paisagens, folhas, flores, troncos e tudo aquilo que conseguiu. Parou para beber água numa fonte e escreveu o sonho mas inverteu o final da história, contou o que se tinha passado na vida real e isso acalmou-a. Na noite seguinte dormiu como não dormia há algum tempo, descansou mesmo e percebeu que o único amigo que tinha era aquele caderno, o caderno que a compreendia e que a fazia sentir-se bem. Nunca relia nada do que escrevia, sabia que uns tempos depois se iria rir de cada letra escrita naquelas folhas e só aí iria reler.
Passou o resto das férias perto da Natureza e a escrever. Habituou-se à escrita e ao seu novo melhor amigo, deixou o psicólogo e apaixonou-se, finalmente, por ele - o caderno.
(com a pouca inspiração que me tem invadido os últimos meses, admiro-me do que consegui fantasiar aqui, hoje. Um bem-haja à minha inspiração, apesar de pouca, está a voltar)
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