segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sonho da realidade

Descalcei-me. Estava frio. As unhas eram o início do corpo. Sentei-me. Estava vazio. Perdi-me. Não sei onde estou. Começo numa unha,acabo num cabelo. Será que sou assim tão insignificante?
Levanto-me. Procuro aquecer-me. Encontrei-te. Estás a aconchegar-me. És mesmo tu? Desculpa, não estou a ver bem.
O frio já chegou. Onde? À ponta do cabelo. E agora? Está a ir-se embora. Porquê? Porque tu me aconchegaste.
Não estou a dizer nada de novo? Eu sei, eu sei. Mas congelei o pensamento. E tu...sim tu. Aqueceste-me e agora estás a descongelar-me.
Chávena de chá. Infusão de misturas desconhecidas. Fazes-me lembrar a avó, quando era pequeno. Ela fazia-me sempre um chá, que eu sou incapaz de recriar o sabor mas sim, era parecido contigo.
Estou sozinho, aqui, com os pés descalços, porquê? As meias vinham molhadas. Os sapatos inundados de água suja. Água da chuva misturada com a poluição dos carros e dos humanos.
Dos humanos? Sim deles.
Pois eu sou um deles, também poluo. Pois eu sou um deles, também erro. Pois eu sou um deles, admito, não sou igual mas no que é geralmente mau, não consigo fugir.Eu poluo, eu peco, eu falo muitas vezes sem saber, eu critico por criticar, eu ...não devia ser assim!
Estou melhor agora. Estou aqui, na banheira. A água que corre é quente...e agora?
Vou acordar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Livro - parte I

Apareceste numa noite quente de Verão às tantas da madrugada. Não me lembro das palavras que trocámos nessa noite mas, timidamente, dei-te o meu contacto. És alguém especial, pelo menos tens de saber empregar as palavras certas, no momento certo. Digo isto porque se assim não fosse não te teria dado o meu contacto.
Nessa noite falámos quase até ser dia e não me parecias um ser estranho. Fizeste-me reflectir acerca de como é que pude confiar tanto, a alguém em quem nunca toquei, tu. A partir de então nunca mais parámos: falámos de tudo, trocámos fotos, pensamentos, frases, textos, músicas, desejos e transmitiste-me ternura e calma…. Sei algumas coisas sobre ti, ou penso que sei!
Gostas de fumar o teu cigarro à beira mar, não dispensas uma boa refeição de carne, adoras pastéis de Tentúgal e vives sozinho. Segundo o que me contas tens uma casa grande, com poucas divisões. Gostas de tudo em grande, principalmente as janelas, para que a luz do sol ilumine as tuas pinturas e o luar o teu descanso – leitura. Adoras ler, sentes que os livros são a melhor companhia para as tuas noites, noites que sucedem ao teu dia de criatividade em frente à tela. Passas os dias a misturar cores, a tentar encontrar o tom perfeito para transmitir sentimentos, a tentar encontrar a cara certa para pintar, a tentar encontrar a música certa para te acompanhar na criatividade.
Anseio as tuas mensagens de boa noite mas sei que para ti não deve ser fácil escrevê-las. A distância que nos separa é grande mas sentes que as mensagens nos aproximam e deixas para trás a tua aversão às novas tecnologias. Adoro quando me contas parte do livro que estás a ler e quando transcreves frases românticas que, mesmo à distância, me conseguem incendiar. Aquilo que sinto por ti é definido como indefinido mas é, completamente, sentido. Dormes comigo todas as noites porque até hoje guardo o lenço que me ofereceste para limpar as lágrimas que me corriam pela cara naquela noite. Transformaste a pior noite da minha vida num sonho lindo que espero puder continuar a viver, e em breve perto de ti. Sinto-te ao meu lado na cama todos os dias, tu estás aqui neste momento, no lenço que guardo religiosamente debaixo da almofada, dentro da carteira, no bolso do casaco ou das calças. Nunca te deixo só meu amor…

sábado, 21 de novembro de 2009

Traição

A nostalgia invade-nos, basta pensarmos no amor. O amor, aquele sentimento que, se bem me lembro “é fogo que arde sem se ver”. Sei agora o significado desta estrofe. Ele arde e não se vê porque quem o tem prefere guardá-lo, com medo da mágoa que ele lhe poderá trazer.
Gosto de sentir a paixão mas prefiro guardá-la para mim. Por mais que tente sei sempre que será a melhor opção, guardá-la, bem cá dentro, no fundinho de qualquer coisa a que algumas pessoas chamam coração. Este coração não é o mesmo que nos bombeia o sangue pelo corpo, é o coração que temos na nossa mente, que nos trai mas que ao mesmo tempo nos faz felizes, ainda que seja por breves momentos.
A traição deste nosso “órgão” é das piores coisas que podemos sentir mas ele só nos trai enquanto nos faz felizes. Eu amo a traição: a do coração, a verbal, a mental e a corporal. Gosto de trair e de me sentir traída, é algo que faz parte do pequeno jogo da vida. É um jogo de estratégia que, sinceramente, não sei jogar. Falta-me alguma técnica.
Agora reflicto e será que se deixar de trair me vão deixar de trair também?
Estou no princípio de um caso que poderá nem ter continuação mas se tiver vou, finalmente, saber a resposta a esta pergunta.

sábado, 7 de novembro de 2009

Para ti cigarro.

Todos os dias te tinha...
Por mais que dissesse que não te voltaria a querer era incapaz de te abandonar. Os únicos que te defendiam eram aqueles que sentiam por ti o que eu sentia. Ainda assim,não os posso considerar amigos porque sabiam,tão bem como eu, o mal que me fazias.
Acredites ou não, e eu sei que o mundo está cheio de pessoas, eu duvido que houvesse, e haja, alguém que gostasse e precisasse mais de ti que eu. Tu preenchias os meus momentos de solidão, acompanhavas-me nos prazeres da vida, davas corpo e alma à minha imagem. No fundo, fazias já parte de mim. Eras o meu maior vício, o meu maior prazer. Adorava quando me penetravas com toda a tua elegância mas sabia que estavas sempre pronto a apunhalar-me pelas costas. Ainda assim deixava-me envolver na paixão dos momentos que me proporcionavas.
Como sabes, nunca tive medo de ti, nem ódio...deixei-te não por sentir necessidade de te abandonar, nem por achar que sem ti a minha vida seria melhor. Deixei-te porque na sociedade em que vivemos já não és bem aceite, essa tua forma de ser e de estar foi completamente ultrapassada, ficaste "fora de moda". Se te devias ter alterado ao longo do tempo? Devias, claro que devias. Podias ter encontrado uma forma diferente de penetrar o vício, de me fazeres sentir-te. Menos maléfica, mais suave.
Não me perguntes se eras cansativo, sabes bem que sim. Tinhas momentos em que me asfixiavas no nosso amor.
Mas eu sei que não era a única que asfixiavas em amor, sei que me traías e que eras amado por muitos e amavas muitos também. Amaste tanto e causaste tanta inveja que foste proibido de entrar no local mais banal, nem às compras podias ir. Achas que conseguia continuar a partilhar a minha vida contigo?Achas que continuavas a fazer sentido no meu mundo?
Vou ter saudades tuas, da tua companhia, da asfixia que,por vezes, me provocavas, do teu amor, da forma subtil com que me penetravas e movimentavas dentro de mim, da forma como me aquecias e, por momentos, me fazias esquecer que é aqui que eu vivo. Aqui sim, neste mundo de loucos. Loucos que tu continuarás a amar e que amar-te-ão eternamente.
Não te esqueças de mim...espero reencontrar-te numa noite escura de solidão. O meu amor por ti será eterno mas ... não me prejudiques mais.
Amo-te mas não te posso continuar a ter ...

Com amor,
Inês Antunes