Enquanto lhe escorriam as lágrimas pelo rosto cansado e triste, ele pensava. Sabia que tudo lhe iria correr bem, como sempre, sabia também que ia sofrer até perceber que as coisas estavam a ir no bom caminho. Era um processo lento e penoso e passava-o todos os anos e por uma simples razão, ele não gostava de se sentir feliz.
Acusava a saturação da felicidade e, para si, a injusta sensação de prazer. Sabia ao certo o que o esperava nos próximos tempos, sabia ao certo o que estava a sentir mas nunca tentou saber, ao certo, como evitar tudo isto.
Perguntava-se regularmente o porquê de ter prazer em se sentir infeliz mas nunca percebeu que não era esse o seu problema.
Zé, aos 19 anos, tinha uma capacidade enorme de amar para fazer alguém se sentir bem mas nunca conseguiu amar para ter prazer. Adorava a felicidade dos outros e destruía a dele o mais rápido que conseguisse. Criava problemas, imaginava barreiras, antecipava o "não", antecipava a falha. Não arriscava, nunca, porque antes de arriscar já se tinha derrotado a si mesmo.
(Zé, és tu)
Belo texto.. muito bem escrito e de uma grande sensibilidade. Original na forma como aborda a complexidade daquilo que é o Ser Humano e o seu sentir.
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