Estava sentada no carro, olhava o mar e à frente tinha uma enorme ravina. Sentia que o mar a aproximava da realidade, mas a realidade é que o mar a afastava do mundo e a levava a mergulhar numa imensidão de pensamentos inacabados e confusos. A vida da Mariana estava prestes a mudar, o mundo iria dar-lhe aquilo que ela sempre quis. E ela? O que fazia? Pensava na última coisa que poderia pensar se soubesse o que estava prestes a acontecer-lhe.
Voltou para casa, pensou no avô que perdeu, no tio que partiu, nas doenças terminais que levaram a tia e o outro avô, na doença da avó, na depressão que tinha, nas irritações da mãe, no amor dos primos, no amor dos tios, na alegria dos vizinhos, no grito de felicidade da prima, na buzina do peixeiro, no pão quente pela manhã, no café queimado, no chá a ferver, nos biscoitos de manteiga e...chorou!
Era dia de trabalhar, partir para a normalidade, sorrir como se tudo corresse bem e como se aquela loja de roupa lhe permitisse ter o melhor emprego do mundo. Passavam clientes, colegas, calças, t-shirts, cintos, malas, bonés...futilidades. Ela sorria! Completou um horário de trabalho escandaloso e voltou para casa...abriu o email. E o rosto, que estava a voltar à depressão, sorriu. Conseguiu! Foi trabalhar, na área para a qual estudou. Alguém leu o currículo, inexperiente, e decidiu apostar na decência que a imagem dela transmitia.
Nada pode falhar, é agora! Passou um mês, dois, três, apareceu o amor, ficou feliz, duvidou, deu tudo e, de repente, começou a sentir-se deslocada. Ela sabia que dominava quem a rodeava. Estava deslocada e decidiram deslocá-la ainda mais, dizendo-lhe: "tens de dar mais, não és suficiente, tornaste-te dispensável em 8 meses". Fechou-se, era hora de explodir. Ou dominava para sempre, ou cruzava os braços. Levantou-se e dominou...
Nenhum comentário:
Postar um comentário