domingo, 17 de janeiro de 2010

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Sentia-se perdida. O mundo escorregava-lhe das solas dos sapatos. As amizades pareciam fugir-lhe por entre as mãos. O amor, esse, sentia-o dentro dela. Um dia perguntou a si mesma se o amor valia a pena. Perguntou a si mesma se o amor, que a fazia mover-se pelo mundo, era assim tão especial. Perguntou a si mesma se esse amor era verdadeiro. Insistiu em perguntas de interpretação do amor, esse sentimento nocturno que nos invade.
No dia seguinte acordou e decidiu não amar. Decidiu colar as solas dos sapatos ao mundo. Decidiu agarrar as amizades entre as belas mãos que possuía. Decidiu que o amor que tinha por si própria só podia ser vivido desta forma.
Passados alguns dias sentiu-se estranha e questionou-se novamente acerca desse sentimento nocturno. Decidiu dar-lhe uma hipótese. Começou a amar alguém. Alguém que não a amava mas que a fazia sentir bem. Alguém que não a amava mas lhe dava prazer. Alguém que não a amava mas que lhe dava forças. Alguém para quem ela era indiferente mas que lhe transmitia paz. E foi aí que percebeu que o mundo é feito de equilibrios e não de excessos. Foi aí que percebeu que se podia amar sem ser amado. Que se podia sentir sem ser sentido. Que se podia viver sem querer viver. Que se podia encontrar sem procurar.

5 comentários:

  1. Genial!! Verdadeiro e único...é só o que posso comentar:)

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  2. Não sei em que medida um amor não reciproco possa ser considerado um "amor", a mim parece-me mais uma obsessão... mas quem sou eu.

    Verdade das verdades, gerir um amor (prefiro usar o termo "paixão") na vida pode ser complicado... há que ter um ponto saudável de equilíbrio, se uma paixão já tem, per se, laivos de insanidade, se lhe retirarmos a sanidade que lhe resta, pode dar mau resultado...

    No caso do post, a meu ver, a paixão que correu mal deixou sequelas na pessoa, que encontrou numa obsessão uma espécie de "escape", talvez pela falsa sensação de que uma obsessão é 100% controlável devido à unilateralidade do sentimento... nada mais errado, eu penso.

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  3. Olha que bonita interpretação... só tenho de arranjar um nome para a personagem frustrada e está feito, pode entrar num livro : )

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  4. sim dá para perceber e estou totalmente de acordo quando diz "para mim a pessoa mais importante do mundo sou eu", concordo com a justificação! ;) obrigado por passar aqui :)

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